Ao jogar poker com certa regularidade, você certamente já passou por aqueles momentos em que nada parece dar certo, apesar de estar com uma estratégia adequada e tomando decisões corretas. No esporte da mente, essa “onda de azar” tem uma terminologia específica e merece ser analisada de uma maneira aprofundada: estamos falando do temido downswing.
Antes de tudo, é preciso entender que, embora seja essencialmente um jogo de habilidade (e por isso é reconhecido como esporte da mente), o poker conta com o elemento do acaso matemático das probabilidades – e como tal, o conceito de variância também se aplica aqui. Isso é muito mais comum no curto prazo e raramente se observa em uma quantidade enorme de mãos, mas pode acarretar grandes perdas em seu stack.
Portanto, a primeira coisa que você precisa saber é que o downswing não está intrinsecamente ligado a algum tipo de estratégia falha, mas sim à variância natural que um jogo de cartas proporciona, como qualquer outro que também envolve o componente sorte, tal qual blackjack ou a roleta – embora o poker se diferencie dessas por ter a habilidade e o raciocínio como fatores predominantes para as vitórias.
Um outro ponto importante para se ter em mente quando falamos de downswing é que ele tem “data de validade”, ou seja, uma onda de azar não dura pra sempre. No entanto, muitos jogadores acabam não tendo esse entendimento e podem se complicar ao entrarem em uma downswing, seja em um torneio presencial ou online.
Alerta com o tilt
Quando falamos em downswing, o maior erro que um jogador de poker pode cometer é tentar recuperar as perdas de uma maré de azar a todo custo, deixando a estratégia de lado para agir com a emoção, sobretudo quando acontece aquela bad beat que ninguém espera.
É aí que mora o perigo: um downswing está diretamente ligado com o tilt, ou seja, quando o jogador perde o controle de suas ações por não saber lidar com as perdas, colocando em risco todo seu stack e jogando o gerenciamento de banca pelo ralo.
Como lidar com um downswing
Praticamente todos os jogadores profissionais já enfrentaram um downswing. Se você pretende seguir essa trajetória, saiba que superar essa maré de azar faz parte do “pacote” de um bom competidor – e isso envolve um pouco do aspecto mental e da estratégia operacional.
Um dos talentos do time partypoker, Yuri Dzivielevski já passou por uma má fase daquelas. “O maior downswing que eu já tive na minha carreira foi de aproximadamente 250 mil dólares. Eu estava jogando um average buy-in de $1k, então foram 250 buy-ins”, disse o curitibano em seu perfil no Instagram.
Para Yuri, três passos foram cruciais para superar a maré de azar. “Como eu consegui me recuperar? Analisando muito o meu jogo, percebendo em quais partes estava falhando; escolhendo a grade ideal para sair dela, ou seja, o mais caro que eu podia jogar com a menor variância possível; e trabalhando o meu mental, o meu dia a dia, sem pensar na bad run como um todo”, explica o brasileiro bicampeão da World Series of Poker.
Outra dica que o jogador dá para quem estiver em uma downswing é subdividir a bad run em pequenas partes para facilitar a recuperação aos poucos. “Ou seja, se eu estava $250k down, o que eu pensava era em frações de $25k, por exemplo, então a minha meta era recuperar esses $25k. Qualquer torneio que eu jogasse me motivava mais”.
Embora o downswing esteja ligado à variância matemática do jogo, ele também pode ter um grande impacto de fatores externos, como falta de concentração ou cansaço mental durante as partidas. Isso é comum em jogadores que entram em muitas mesas ao mesmo tempo ou que simplesmente passam horas em frente a um computador, o que não é muito indicado para quem quer conciliar uma vida saudável com o poker.
Portanto, se esse for o seu caso, vale a pena parar um pouco e analisar o que está prejudicando o seu jogo e contribuindo para uma sequência negativa, antes que as perdas atinjam um nível irreversível para o seu bankroll.
E o contrário, também existe?
Se as marés de azar são comuns no mundo de poker, o contrário também é verdadeiro. Existem as chamadas upswings, ou seja, quando a sorte te acompanha por algumas mãos seguidas. Em um jogo de ganhos e perdas, elas podem ser um fator de equilíbrio para uma sequência negativa.
Porém, é preciso ter cuidado para não supervalorizar momentos de upswings e deixar aquilo afetar o seu planejamento estratégico – pois assim como os downswings, as marés de sorte são passageiras…