Crédito da foto: Cardplayer Brasil
Bio Salomão tinha 27 anos quando iniciou sua carreira profissional, em 2014, embora pensasse grande, não poderia prever (ninguém pode, aliás) que seria, hoje, aos 32, o primeiro brasileiro a conquistar o novo partypoker MILLION, torneio renascido há duas semanas, após hiato de 13 anos, que já é um dos mais importante da poker online.
No último domingo, 18 de novembro, ele entrou na história do poker nacional e ainda levou a maior premiação de sua carreira, US$ 114 mil – valor estabelecido após um acordo com os grinders theteacherray e Travis Darroch , segundo e terceiro colocados, respectivamente. Um capítulo feliz de uma história longa que não acaba com a conquista MILLION, e que começa muito antes do início do torneio.
É a história de um sucesso que começa em casa, com o apoio da família – liderada pela mãe, viúva há 31 anos, quando Bio era um bebê de colo, e pelo avô – aos planos pouco ortodoxos de um jovem que decidiu pelo poker profissional, após estudar ‘farmácia’ numa das principais universidades do Brasil – e que segue “na rua”, com a participação de figuras importantes do poker nacional, como João Sydens , Kelvin Kerber
, Guilherme Cheveau
, Fabiano Kovalski
, e Helio Neves
.
Sydens foi o primeiro a abrir as portas do poker para Bio. Os quatro últimos são os homens por trás do ‘Samba’, time de poker referência, para o qual trabalha atualmente e que tem sido fundamental na evolução técnica do jogador.
Em entrevista concedida na última terça-feira ao blog do partypoker, Bio– que atua desde junho sob o nick “vem kikando” (antes jogava como “slmzrj”) e é profissional de torneios mid-stakes – contou mais sobre seu triunfo no torneio, falou sobre sua rotina, sobre passado na vida e futuro no poker.
Quando iniciou sua carreira profissional, Bio Salomão não sabia que, cinco anos depois, estaria marcado na história do poker online brasileiro e sul-americano. Nem que estaria dando entrevistas.
Normal, afinal, no poker – como na vida – não se tem controle de “quando” e “onde” as coisas vão acontecer; nem mesmo de “o quê” vai se passar. Ao jogador, cabe apenas o controle do “como”: “como” se preparar; “como” tomar as melhores decisões; “como” se colocar nas melhores situações para que o grande dia chegue finalmente.
E é isso que ele tem feito. “A gente se prepara bastante pra quando tiver a oportunidade tomar as melhores decisões”, diz o jogador, hoje com 32 anos. É isso o que ele tem feito há meia década. E parte do resultado veio no domingo. Confira, abaixo, a entrevista completa:
DETALHES DA RETA FINAL
(Blog partypoker) – Em que momento você percebeu que algo especial estava acontecendo e você poderia conquistar um torneio tão grande (o maior de sua carreira até aqui)? Você ficou nervoso em algum momento?
Bio Salomão – Na verdade, acredito que no poker não existe muito esse “momento”, o jogo é muito dinâmico e o cenário pode mudar a qualquer momento. Acho que nervoso não é bem a palavra. Fiquei ansioso, sem dúvidas, até porque eu já sou um cara ansioso. A gente se prepara bastante pra quando tiver a oportunidade tomar as melhores decisões.
Como foi o momento de comemoração? Quem estava com você no momento ou (se estava sozinho) quem foi o primeiro a saber da conquista?
Foi fantástico, fisicamente meu irmão, que está de férias aqui no Brasil e está aqui em casa, e meu tio estavam comigo, mas toda a galera do Samba Team estava na torcida.
Tecnicamente, qual foi o momento mais desafiador durante o torneio e quais foram as mãos – além da última – mais decisivas para que você chegasse ao título? Descreva uma delas, se você lembrar, por favor.
Não teve uma “última mão”, já que foi feito deal no 3-handed. Sinceramente não lembro de nenhuma mão especifica, mas sem dúvida ganhar 2 ou 3 flips ali 30 left fez total diferença.
Como foi feito o acordo na reta final?
No 3-handed, os outros 2 jogadores queriam acordo, porém meu stack estava na proporção de 2-1 em relação aos dois, então não fiz o deal no primeiro momento; no decorrer do jogo, perdi uns potes importantes, os stacks estavam praticamente equivalentes e ai fizemos o deal.
HISTÓRIA NA VIDA, NO POKER E PREPARAÇÃO
Qual é a sua idade, há quanto tempo está no poker online e como você se prepara e trabalha para evoluir diariamente?
Tenho 32 anos, estou a cerca de 7 anos no poker, mas como profissional há quase 5. Em relação à preparação, trabalho para melhorar minha rotina diariamente, incluindo exercícios e trabalhando na mudança de hábitos alimentares. Sem dúvida, isso ajuda bastante no desempenho durante as exaustivas horas de grind. Sempre procuro ver algumas mãos antes do grind para ir “aquecendo o cérebro”. Em relação a evolução, dentro do Samba Team a gente tem aulas semanais e estamos sempre nos atualizando em relação a tendências do field.
Você é um jogador regular de torneios mid-stakes e joga em um dos principais times do país, o Samba. De que maneira essa premiação influencia no futuro da sua carreira?
Financeiramente ajuda bastante. Dá uma certa estabilidade e tranquilidade para seguir no caminho, então indiretamente acaba influenciando positivamente no futuro, mas o foco é o mesmo: um degrau de cada vez, pra quem sabe um dia meu nome possa estar figurando entre os melhores do mundo.
Você fez ajustes no seu jogo nos últimos meses (quais?) ou esse resultado é produto da continuidade do trabalho nos últimos anos?
Ajustes a gente sempre faz sempre, quando as tendências do field vão mudando a gente tenta sempre ir ajustando de maneira a estar sempre explorando o field o máximo possível. Mas sem dúvida esse resultado é fruto de 5 anos de trabalho intenso e muita dedicação.
Após conquistar premiação tão significativa, você pretende seguir jogando por times (ou pelo menos renegociar seu deal)?
Sim (pretendo continuar). Negociar o deal é difícil, pois o Samba Team já possui o melhor deal do mercado, e jogar pro samba vai muito além de apenas receber dinheiro para jogar uma grade de torneios.
Após a conquista, você falou sobre “ser grato às oportunidades que teve na vida e às pessoas que lhe ajudaram a chegar aqui”. Você pode relembrar quem são essas pessoas e quais oportunidades elas deram para você?
Perdi o pai com 1 ano; minha mãe tinha 3 filhos, então a vida toda minha família ajudou. Sai de casa com 17 anos para morar em Floripa, fiz faculdade de farmácia na UFSC e durante esse período meu tio me ajudou financeiramente. Minha mãe e meu avô sempre me incentivaram bastante, mesmo o poker não sendo uma profissão convencional.
Em relação ao poker, Joao Sydens foi o cara que me deu a primeira oportunidade e com quem aprendi e aprendo muito até hoje. Hélio Neves
, subiu bastante o nível técnico do meu jogo, fora tantos outros ensinamentos. Chev (Guilherme Cheveau)
, Kelvin (Kerber)
e Kova (Fabiano Kovalski)
mudaram minha maneira de ver o jogo e me ensinaram como realmente explorar as fraquezas do meus adversários. Fora tantos outros que fizeram parte da jornada de alguma maneira.
Quais são teus planos para o futuro, vai jogar mais eventos live ou não necessariamente? Que torneios você gostaria de vencer no futuro?
Dentro do poker, a curto prazo, quero conseguir me estabilizar jogando buy-in médio de $50/60 e, claro, alcançar limites maiores, mas sempre de uma maneira sólida e consistente. Em relação a torneio live, não tenho nada planejado em relação a isso pro ano que vem, a única coisa certa e que vou pra Vegas jogar a WSOP.
SOBRE O PARTYPOKER MILLION
Qual sua opinião sobre a volta do partypoker MILLION? Que importância tem o retorno de um evento desse para jogadores regulares?
Muito legal a volta do MILLION. Para jogadores regulares, quanto mais torneios desse porte melhor, pois atrai mais jogadores recreativos pro site, consequentemente acaba aumentando o field dos outros torneios também, o que leva a premiações maiores e mais atrativas.
O que você achou da estrutura e das novidades, como a divisão dos Dias 1 ao longo da semana?
Achei a estrutura boa, a média de fichas estava se não me engano sempre 30 BBs, a não ser no finalzinho ali. Em relação à divisão dos dias, achei positiva também.