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Isaac Davis, personagem interpretado por Woody Allen no filme Manhattan, cunhou a seguinte máxima: “Talento é sorte. (Na vida) O importante é coragem”.

No poker online, ambiente extremamente competitivo, a frase não se aplica completamente. Talento é sim necessário, assim como comprometimento, disciplina e estudo.

Mesmo assim, muitas vezes a coragem de tomar decisões difíceis vai fazer a diferença entre ter ou não uma carreira longeva e vencedora.

A história do gaúcho Lorenzo Bazei – nosso personagem da semana –mostra como todo um potencial poderia não se realizar se não tivesse ele tomado decisões corajosas ao longo da vida.

Hoje, aos 27 anos, Lorenzo – também conhecido pelos nicks i_eh_usGURI (no partypoker) e charlie580 – é um nome consolidado do poker online, com resultados expressivos aos montes, inclusive um quarto lugar na última edição do partypoker MILLION, que lhe rendeu US$ 56.658.

Lorenzo em evento do partypoker LIVEMas nem sempre foi assim. E não foi tranquilo, nem convencional o caminho até aqui. Este porto-alegrense –, que hoje celebra um momento de ápice, chegou onde está tomando às vezes passos pouco convencionais – ou até mesmo não recomendados – para quem sonha em fazer carreira no poker.

ESCOLHA PELO POKER: ERA TUDO OU NADA

No início de vida adulta, Lorenzo escolheu o poker, sem hesitar, mas sem pensar em plano B também. Ele não cogitou fazer faculdade, nem tinha outro emprego que pudesse lhe salvar caso a escolha desse errado.

“Eu não tenho formação nenhuma e nem passei perto de ir pra faculdade ou algo do tipo”, conta Lorenzo, que concedeu entrevista ao blog do partypoker na última quarta-feira. “O lado positivo nisso foi que não tinha opção. Ou eu seria bem sucedido jogando poker ou eu seria bem sucedido jogando poker”!

Sem direção, ele descobriu o poker e encontrou um norte. Havia começado brincadeira, jogando Sit & Gos freeroll com premiação de 20 centavos, no Everest Poker. Na época, competia contra um amigo e mais perdia do que ganhava. Depois, passou a jogar heads-up com fichas fictícias no PokerStars valendo carteiras de Gudang (um cigarro de origem indonésio).

Da brincadeira para o profissionalismo o caminho foi natural. Tanto assim que Lorenzo nem se lembra do momento em que ‘virou a chave’.


Manhattan: “Talento é sorte. (Na vida) O importante é coragem”.

“Simplesmente fui indo. Mergulhei completamente no jogo e não olhei mais para NADA; era isso ou isso. Comecei a jogar a dinheiro nos limites mais baixos de Limit Hold’em 6-max e heads-up e, com o passar do tempo, passei a jogar no heads-up Sit and Go micro e low stakes e um pouco de cash games heads-up também”, lembra o hoje profissional, cujos primeiros registros em torneios a dinheiro datam de 2010, quando tinha 18 anos. “Foi nesse momento que comecei a ganhar de maneira consistente nos sit-and-gos e por lá fiquei um bom tempo”.

TEMPOS DIFÍCEIS NO CASH E AJUDA DE BEDIAS

Uma breve análise no sharkscope da conta charlie580 (a mais antiga e movimentada do jogador) pode sugerir que a história de Lorenzo foi um passeio no parque, afinal a partir maio de 2011, oito meses depois dos primeiros registros da conta, o gráfico de Lorenzo nunca mais ficou negativo.

Sucesso total, você pode imaginar. Não exatamente. No meio do caminho, se perdeu em decisões erradas. Uma delas, gastar demais, outra, a pior delas, se aventurar em cash games sem a preparação adequada.

“Ah, eu gastava muito, mas com certeza foi muito mais pelo cash, eu sentava na 25 50, 50 100 de Omaha na mesma semana em que estava aprendendo as regras do jogo, eu tinha zero preparo psicológico na época”, lembra.

Na época, com 20 poucos anos, o jogador quebrou e ficou perto de desistir do poker. Só não o fez, por influência do Bernardo Dias (o Bedias).

Foi com o Bedias como tutor que a carreira de Lorenzo deslanchou. “Definitivamente, não sei nem se teria voltado a jogar torneios se não fosse por ele (Bedias) e, se tivesse voltado, com certeza não estaria no nível que eu estou hoje e não teria jogado as coisas que eu joguei nos últimos 2 ou 3 anos”, diz Lorenzo, que passou a jogar ‘stackeado’ pelo próprio Bedias.

UNIÃO COM O 4BET

Lorenzo e Bernardo Dias seguem ligados, como amigos, mas agora, os outros patrões são outros. O jogador atua há ano pelo 4 Bet Team, chefiado por Will Arruda, Marcos Sketch, Thiago Crema e Rafael Morares.

A união se uniu ao 4Bet em janeiro de 2019. Coincidentemente, apenas quatro meses antes da equipe fehar parceria com com Bernardo, incorporou a estrutura do Bedias Team.

Agora, no 4Bet, Lorenzo tem acesso aberto para discutir os ‘segredos’ do poker com outras referências da modalidade.  “Eu troco muitas ideias sobre o jogo com o Bedias, Machadinha e os meus patrões, Will (Arruda), Rafa (Moares) e (Thiago) Crema”, conta o jogador.

NADA DE HUDs – POKER OLD SCHOOL E VENCEDOR

Lorenzo, apesar de estar exposto a tantas influências, em alguns aspectos, tem uma maneira muito pessoal de agir e gerir sua carreira.

Alguns hábitos dele são muito próprios, mas vem dando certo. Um deles é o fato de não fazer uso algum de HUDs – softwares de rastreamento que ajudam os jogadores durante o grind.

Dos poucos que atuam em alto nível no poker online, o jogador é um dos poucos que consegue resultados consistentes sem se usar a tecnologia.

“Eu nunca senti necessidade de utilizar, talvez eu tenha uma memória seletiva de coisas que deram errado quando eu tentei usar muito tempo atrás (possivelmente porque eu utilizei mal mesmo)”, diz o jogador, que não descarta, porém, adotar esses programas no futuro.

“Eu sempre gostei de jogar poucas telas e prestar bastante atenção na mesa. Antes, eu pensava que: ok, eu sou bom o suficiente e não preciso desse auxílio. Hoje, eu penso que: ok, se eu consigo me virar bem sem (HUDs) num jogo que hoje em dia é DURISSIMO, talvez eu consiga ser muito melhor utilizando algum software de apoio”, pondera o jogador.

HUDS NO PARTYPOKER: VENCEDORES VÃO CONTINUAR VENCENDO

Lorenzo Bazei pode até começar a usar HuD’s no futuro, mas não será nos campos do partypoker. Em 2019, a sala decidiu banir o uso desses softwares e outras ferramentas tecnológicas para promover um jogo mais justo.

Em teoria, portanto, o jogador teria uma vantagem contra seus competidores nos torneios da sala. Mesmo assim, ele entende que não tem feito tanta diferença.

“Como eu não utilizo, foi bom na teoria, mas, na pratica, até esse hit no domingo eu estava perdendo no partypoker. Então é meio relativo”, diz o jogador do 4Bet, que acredita que os jogos estão mais justos, mas ressalta: “os perdedores vão continuar perdendo. E os vencedores vão continuar vencendo”.

FUTURO: FOCO NO JOGO APENAS

‘Os vencedores vão continuar vencendo’, e Lorenzo quer seguir nesta turma. Ao contrário de outros jogadores, que investem em outras atividades – como coaching e staking –, ele quer seguir sendo grinder apenas. Cada vez melhor.

“Já tive experiência com time de poker e definitivamente não (quero mais) ”, diz Lorenzo, que foi gestor de um time que tinha como sócios Bernardo Dias e Éverton Becker. “Eu simplesmente ficava muito a desejar”.

Além de jogar, só uma ideia anima o grinder. Ele gostaria de ter, um dia, um podcast de entrevistas, “tipo o do Olivier Busquet”.

Lorenzo hoje vive o poker intensamente. “Tenho 3 ou 4 amigos próximos off poker e os outros são todos do poker”, diz. Vê-lo fazendo outra coisa então talvez seja difícil.

Mas ele não é só poker. Seus ídolos – o astro LeBron James e o ultramaratonista David Goggins – estão fora do jogo. E uma de suas maiores paixões é Grêmio. Quem sabe um podcast no futuro não esteja no caminho.

Às vezes tudo o que você precisa é para começar uma história do nada é coragem e dedicação. 10 anos depois de começar tudo do zero, Lorenzo sabe disse. Se talento vier junto (como no caso dele), melhor ainda.

Confira entrevista completa com o mesa-finalista do partypoker MILLION

Você nasceu onde e quando?
Nasci em Porto alegre, em 17 de junho de 1992.

Como você chegou ao mundo do poker?
Um amigo meu jogava com uns amigos e me apresentou o Everest Poker, comecei a jogar um Sit & Go freeroll com premiação de 20 centavos para o campeão.

Depois, começamos a jogar heads-up com fichas fictícias no PokerStars valendo carteiras de Gudang (um cigarro de origem indonésio) e também duelos de heads-up ao vivo; eu comecei a levar a sério o jogo ali porque ele ganhava sempre; me blefava o tempo inteiro.

Em que momento você se tornou profissional?
Eu realmente não sei em que momento isso aconteceu, simplesmente foi indo, eu mergulhei completamente no jogo e não olhei mais pra NADA; era isso ou isso. Dado momento, comecei a jogar a dinheiro os limites mais baixos de Limit Hold’em 6-max e heads-up e, com o passar do tempo, passei a jogar no heads-up Sit and Go micro e low stakes e um pouco de cash games heads-up também. Foi nesse momento que comecei a ganhar de uma maneira consistente nos sit-and-gos e por lá fiquei um bom tempo.

Qual é a sua formação fora do poker e de quem maneira ela ajudou no seu desenvolvimento no jogo?

Eu não tenho formação nenhuma e nem passei perto de ir pra faculdade ou algo do tipo. O lado positivo nisso foi que ou eu seria bem sucedido jogando poker ou eu seria bem sucedido jogando poker!

Quem é sua turma no poker? Eu fiz grandes amigos jogando poker, eu tenho 3 ou 4 amigos próximos off poker e os outros são todos do poker.

A “minha turma” é o pessoal do Bedias Team (time criado por Bernardo Dias, que hoje faz parte da estrutura do 4Bet Team) aqui de Porto Alegre; de fora, o Bruno Borges, zilbeee (Matheus Zilberknop), (Thiago) Grigoletti, Dimenor (Lucas Fauth), o Marcelo Fonseca e o Felipe Difini.

Sendo os mais próximos o Bitoks (Éverton Becker), Machadinha RS (Gustavo Rocha), zilbeee e o Bruno.

Com quem você discute mãos?

Eu troco mais ideia sobre o jogo com o Bedias, Machadinha e os meus patrões, Will (Arruda) Rafa (Moares) e (Thiago) Crema.

Quem foram as pessoas que te influenciaram e fizeram a diferença para você chegar a esse ponto da sua carreira?

Eu poderia citar algumas pessoas mas principalmente a minha namorada (Giulia Guglielmi) e o Bedias; definitivamente eu não sei nem se teria voltado a jogar torneios se não fosse ele e se tivesse voltado com certeza não estaria no nível que eu estou hoje e não teria jogado as coisas que eu joguei nos últimos 2 ou 3 anos.

Quais acontecimentos na sua carreira foram determinantes para que esteja onde está hoje?

Com certeza, o fato do Bedias ter me convencido a voltar a jogar torneios, depois de ter me auto sabotado tantas vezes e tomado péssimas decisões financeiras, no português claro: ter quebrado (não foi jogando torneios), eu passei praticamente uns 2 anos sem jogar torneios.

Eu tinha criado um bloqueio sobre os MTTs, em algum momento ele me convenceu a voltar a jogar MTTs e me ofereceu o melhor deal possível. Eu com certeza não seria o profissional que eu sou se além de tudo isso ele não tivesse confiado tanto em mim como jogador.

Você disse que se auto sabotou e tomou decisões ruins. Pode dar um exemplo? Você quebrou jogando cash ou de outras maneiras (fora do poker)?

Ah, eu gastava muito, mas com certeza foi muito mais pelo cash, eu sentava na 25 50, 50 100 de Omaha na mesma semana em que estava aprendendo as regras do jogo, eu tinha zero preparo psicológico na época.

Você um exemplo de profissional que sempre foi competitivo sem usar HUDs como apoio. Por que você preferiu não usar esses softwares?

Eu nunca senti necessidade de utilizar, talvez eu tenha uma memória seletiva de coisas que deram errado quando eu tentei usar muito tempo atrás (possivelmente porque eu utilizei mal mesmo). Eu também sempre gostei de jogar poucas telas e prestar bastante atenção na mesa. Eu pensava que: ok, eu sou bom o suficiente e não preciso desse auxílio. Hoje, eu penso que: ok, se eu consigo me virar bem sem (HUDs) num jogo que hoje em dia é DURISSIMO, talvez eu consiga ser muito melhor utilizando algum software de apoio, mais especificamente o H2N, cuja diferença pro Hold’em manager é um abismo. Então eu vou começar a utilizar.

Qual diferenças (vantagens) do H2N em relação ao Hold’em manager?

Não tenho conhecimento sobre ambos para responder isso, a minha opinião sobre a diferença entre os dois é baseada na opinião de pessoas que eu confio muito.

No último ano, a proibição do uso de HUDs pelo partypoker, com a intenção de deixar o jogo mais justo, surpreendeu alguns. Como você acha que essa medida afetou o ecossistema do poker?

Sendo bem sincero, em TEORIA, os regulares teriam menos vantagem sobre os recreativos, mas na pratica acho que não faz diferença nenhuma, os vencedores vão seguir ganhando e os perdedores perdendo.

Há quem diga que o banimento dos HuDs atrapalha os profissionais (que formam a maioria dos usuários). Outros dizem que é bom, por atrair mais amadores para as mesas. Que impacto você acha que teve essa medida? (Tanto para você como para outros profissionais…)

Como eu não utilizo, foi bom na teoria, mas, na pratica, até esse hit no domingo eu estava perdendo no partypoker. Então é meio relativo.

No último ano, a proibição do uso de HUDs pelo partypoker, com a intenção de deixar o jogo mais justo, surpreendeu alguns. Como você acha que essa medida afetou o ecossistema do poker?

Para os regulares eu acho que quem é muito bom vai ter a mesma vantagem sobre os outros regulares mais fracos ou até mais vantagem ainda.

JOGO, TREINAMENTO, ROTINA E CARREIRA

Quais características – técnica ou mental – do seu jogo fazem com que você se destaque?
Eu acho que a capacidade de aprender as coisas rápido e colocar na pratica e lidar muito bem com momentos de muita pressão.

Quais jogadores mais inspiram você, sejam brasileiros ou estrangeiros? E por quê?
Não tem nenhum jogador de poker que me inspire. Quem que me inspira mesmo na vida é o Lebron James e o (ultramaratonista) David Goggins .

Óbvio que existem muitos jogadores que servem como referência em vários aspectos, por exemplo: eu sou muito fã do c.darwin2, da capacidade de jogar de tantas formas diferentes, da ética de trabalho absurda; várias vezes, me peguei vendo ele jogar na terça feira, um dia depois de acabar alguma serie importante.

Outro é o Naza, também pela ética de trabalho absurda, mas, principalmente pela forma como ele enxerga o jogo, uma ambição gigantesca e porque ele cita muitas frases do Jay z (risos).

Como você enxerga seu futuro como jogador. O que ainda quer conquistar, em que aspectos você quer evoluir e qual é o caminho para chegar lá?

Eu quero ter a capacidade técnica, mental e financeira para jogar os melhores Lives pelo mundo e o que tiver de mais caro e mais difícil no online.

Pra isso se concretizar com certeza eu preciso evoluir em vários aspectos, mas o principal seria a ética de trabalho mesmo, acho que isso engloba muita coisa, eu venho negligenciado isso minha carreira inteira, nos últimos meses melhorei muito nesse aspecto e tenho bons motivos para acreditar que vou seguir evoluindo.

Além de jogar, você tem outros projetos no poker (coaching, staking, criação de times etc.)?

Não, nada. Já tive experiência com time de poker e definitivamente não. Acho que a única coisa que envolva poker que tenho vontade de fazer que não seja jogar é ter um podcast de entrevistas, tipo o do Olivier Busquet. No momento creio que eu não saiba os caminhos para fazer algo tão bom quanto eu gostaria mas no futuro quem sabe.

Qual foi a má experiência que você teve administrando time de poker? Qual o nome do time?

Eu tive um sozinho muito atrás bem pequeno que tinha uns 5-6 cavalos que eu nem lembro porquê não fui adiante e outro mais recente que éramos eu Bedias e Bitoks; Bedias era o investidor; e eu e Bitoks como administradores da parada; simplesmente fui um péssimo gestor no geral; Em alguns aspectos, eu acho que ia bem: na parte “humana” da parada, trocar ideia com os caras sobre como estão as coisas, vida pessoal, etc… Mas em outros eu simplesmente ficava muito a desejar.

Que impacto você acha que o partypoker vem tendo na reta dos profissionais?

Com certeza bem grande, são muitas opções de torneios com boas estruturas e vários buy ins.

O que você que diferencia o partypoker de outras salas, no momento?

A proibição dos HUDs. Eu não acho que seja errado utilizar e não acho que a maior vantagem de um profissional pra um amador seja utilizar algum software de apoio, mas eu achei legal a proibição por parte do partypoker.

No último domingo, você conseguiu um quarto lugar no MILLION, que momento/mão você considerou mais importante ou inesquecível (seja bom ou ruim) no torneio?

Teve um AKo x AQ x TT que q eu ganhei, quando restavam 100 jogadores. Nas últimas semanas eu perdi vários AK importantes em retas finais. Só que acabei ganhando esse, num ‘paradão’.

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